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MÍDIA & GÊNERO: Imprensa discute preconceito contra mulher

Por Ligia Martins de Almeida em 19/2/2008


O preconceito contra mulheres e o tratamento que recebem da mídia são temas de dois artigos publicados esta semana: um no UOL, outro no Estado de S. Paulo. Os textos foram dados originalmente no New York Times. O primeiro discute o comportamento dos tablóides em relação às mulheres. O segundo fala de mulheres disputando poder. Os dois, embora tratem de áreas tão diferentes, chegam à mesma conclusão: as mulheres sofrem com o preconceito, inclusive por parte da imprensa.
A parcialidade das revistas de fofoca é o tema do artigo publicado no UOL, o qual, depois de enumerar vários exemplos de tratamento, diz:
"Sim, as mulheres são quase que os únicos alvos de escrutínio das notícias de fofoca. Os homens com problemas pessoais são tratados com gravidade e distanciamento, enquanto mulheres nas mesmas condições são objeto de ridículo, piadas e humor negro."
Os editores de revistas de fofoca tentam justificar seu comportamento dizendo que seu maior público são as mulheres e que "as mulheres não querem ler sobre homens a menos que eles estejam associados a uma mulher: um casamento, um bebê, o término de um relacionamento".
Rebecca Roy, uma psicoterapeuta de Beverly Hills, Califórnia, que tem vários clientes na indústria de entretenimento, diz que os homens conseguem com freqüência se esquivar dos problemas com a indiferença elegante típica dos bad-boys. Segundo ela, o duplo tratamento da imprensa pode reforçar o comportamento destrutivo das celebridades femininas, empurrando-as ainda mais fundo no abuso de drogas e comportamento instável (UOL, 17/2/2008).
"Turma da menopausa"
Enquanto as celebridades têm sua vida vasculhada, as mulheres que se destacam na economia e na política sofrem outro tipo de preconceito, diz o artigo "A liderança das mulheres na democracia moderna":
"A autopromoção é uma estratégia útil para os homens, mas quando as mulheres ressaltam suas realizações, provocam antagonismos ou não despertam interesse. E as outras mulheres parecem ficar ainda mais ofendidas com a autopromoção feminina do que os homens. Isso cria um enorme desafio para mulheres porque, quando ela é uma pessoa modesta, é considerada medíocre. Se ela procura promover suas realizações, porém, é taxada de presunçosa.
"Para o azar das mulheres, a liderança feminina pode ser reconhecida pela competência ou pela simpatia, mas não por ambas.
"No geral, roupas e aparência são mais importantes para as mulheres do que para os homens. Surpreendentemente, vários estudos concluíram que, na verdade, quando uma mulher se candidata a um cargo de direção, o fato de ser fisicamente atraente a coloca em posição de desvantagem." (O Estado de S. Paulo, 17/2/2008)
E o preconceito, ao que tudo indica, não fica restrito à mulher em destaque, atingindo também suas seguidoras. É o que mostra a reportagem publicada na Folha de domingo (17/2) na matéria "Turma do terninho chega para salvar candidata de apuros":
"Aos poucos, vai chegando o que a campanha da primeira-dama chama carinhosamente de turma do terninho ou irmandade, que os críticos apelidaram maldosamente de turma da menopausa: mulheres que se vestem como a ex-primeira-dama, com cores escuras, se apresentam pelo primeiro nome e chamam todo mundo de `querido´ e `querida´."
O que a matéria não esclarece é o que os críticos querem dizer com "turma da menopausa". Seria interessante uma matéria - na Folha, no Estadão ou em uma das revistas femininas que se dizem preocupadas com a situação da mulher - discutindo qual é a imagem que as mulheres mais jovens, os homens e a imprensa, têm das mulheres na menopausa. Ou será que a mídia é absolutamente democrática e trata igualmente mal as jovens (destacando o mau-comportamento delas) e as mais velhas, que ousam disputar poder com os homens?

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